domingo, 7 de abril de 2013

É possível fazer e manter amigos no ambiente de trabalho?

Todo mundo irá concordar quando dizem que temos que nos enturmar, fazer amizade (de preferência, rápido) no ambiente corporativo. Mas, convenhamos, todo mundo também sabe que, dependendo do local onde se trabalha  isso é difícil e, às vezes, até mesmo impossível.
Não é à toa que o departamento de Recursos Humanos, cada vez mais, se empenha em proporcionar um ambiente corporativo saudável e amigável entre seus funcionários através de muitas ações, como pesquisa de clima, o que refletirá, enre outros aspectos, em maior rendimento e satisfação dos funcionários em relação ao trabalho que executam.
Lembro-me bem de uma situação que aconteceu em uma das empresas em que trabalhei. Era uma empresa multinacional, porém, com um quadro de funcionários bem reduzido. Na época, éramos apenas 35 funcionários e 4 secretárias. Todas nós havíamos entrado no mesmo período, exceto essa última de quem contarei o caso.
Tinha um bom relacionamento com a secretária que trabalhava ao meu lado. Infelizmente não podíamos sair juntas para almoçar porque enquanto uma estava fora,  a outra deveria atender ao telefone, fornecedores, clientes e a equipe de trabalho, ou seja,  deveríamos assumir o posto de trabalho enquanto a colega estivesse em horário de almoço.  
Quando essa última secretária foi contratada, logo me simpatizei com ela. Era discreta, quieta, bem sorridente e atenciosa.  Eu só a achava um pouco tímida, pois nunca conversava com ninguém, muito menos circulava pela empresa.  Chegava para trabalhar, sentava-se na cadeira, fazia seu trabalho e lá ficava até a hora de ir embora, o que acontecia rigorosamente no horário determinado de saída. Nunca a vi sair uns minutos após o término do expediente.
Logo que ela chegou, me apresentei e a convidei para ir almoçar naquele mesmo dia. No departamento em que ela trabalhava não era necessário uma secretária para substitui-la enquanto estivesse fora. A equipe era pequena e não tinham tantos contatos com clientes assim. Ela deixava a secretária eletrônica de seu telefone ativada e ia almoçar. Quando voltava era só anotar os recados. 
Qual não foi minha surpresa quando ela disse que não poderia ir almoçar comigo porque o noivo viria buscá-la para almoçar. Na hora fiquei um pouco sentida, mas entendi. Qualquer pessoa no lugar dela, faria o mesmo, eu acho.
Quando a gente convida algum colega de trabalho para ir almoçar, ir a uma loja ou mesmo ir a um evento ou festa, isso demonstra claramente nossa vontade de estreitar o relacionamento, formar uma amizade e fortalecê-la porque durante o ambiente de trabalho não há tempo muito menos clima para conversarmos sobre outros assuntos, sejam eles de ordem pessoal ou mesmo profissional.
No dia seguinte, a convidei novamente e ela me deu a mesma resposta. Disse que não poderia porque o noivo viria buscá-la.  Insisti no convite em mais duas ocasiões e como sempre tinha uma resposta negativa, procurei deixá-la à vontade para almoçar comigo quando quisesse. O caso é que isso nunca aconteceu durante o tempo em que trabalhou lá conosco. Com certeza, algum motivo havia e procurei respeitar a decisão dela.
O mais engraçado é que nunca a vimos (nem sozinha, nem acompanhada do tal noivo) em nenhum restaurante próximo do trabalho.   Como tínhamos apenas uma hora para almoçar não dava tempo para almoçar em nenhum lugar longe porque senão não retornaríamos ao trabalho a tempo.
Uma vez até a perguntei onde ela almoçava porque nunca a víamos em nenhum dos lugares que frequentávamos. Ela me respondeu, delicadamente, que ia em restaurantes um pouco afastados do trabalho porque o noivo a levava de carro.
Aparentemente eu é quem tinha mais contato com ela, não via nenhuma outra secretária conversando com ela, muito menos os colegas de trabalho a quem ela assessorava.  Seu chefe  vivia viajando, principalmente ao exterior, por isso, ficava muito sozinha e isolada lá no canto dela.
Certo dia,  decidi me afastar dela porque achei que ela não gostava da minha companhia e,  por isso, dava sempre a mesma desculpa. Depois notei que nenhuma secretária se aproximava dela, nem para conversar, nem para ajudar no trabalho, pois ela poderia ter alguma dificuldade, como é comum logo no início de um novo trabalho. Enfim, ninguém se preocupava com ela e ela fazia o mesmo.
Logo que ela foi contratada até me propus a ajudá-la caso ela tivesse alguma dúvida ou dificuldade, mas para meu espanto, ela nunca me perguntou nada.   Nunca pediu ajuda nem a mim nem a ninguém. Acredito que ela, ou era muito polivalente, ou então não gostava de incomodar ninguém e tentava resolver sozinha (acertando ou não) suas dificuldades.
Logo notamos que havia algo estranho quando todos fomos almoçar em um restaurante bacana para comemorar o dia da Secretária (30 de setembro). Nesse dia até o chefe dela estava presente, mas ela novamente deu a mesma desculpa para não ir conosco. Quando voltamos do almoço, lá estava ela na sua mesa trabalhando e não teve a delicadeza e nem a curiosidade de nos perguntar como foi o almoço ou coisa do tipo.
No mês seguinte, houve um happy hour proporcionado pela empresa em um bar perto da empresa. Seria às 18h e terminaria às 20h. Na ocasião,  ela nos disse que não iria porque tinha um compromisso com o noivo que viria buscá-la quando terminasse o expediente.
Em seguida, fomos comemorar, no início de dezembro, a confraternização de  Natal, com direito a churrasco, amigo secreto, música ao vivo em um ambiente amistoso e descontraído em uma chácara muito bonita e aconchegante e ela, novamente,e não compareceu.  Ela foi a única funcionária ausente.  Até disse que iria, que o noivo a levaria (era um sábado), pois poderíamos levar um acompanhante.     
Quando nos encontramos novamente no trabalho, ela deu uma desculpa qualquer por não ter ido. Infelizmente, naquela mesma semana,  ela foi demitida. Eu lamentei muito a saída dela e a passagem rápida por nossa empresa. Não sei como ela se sentiu, se previu que isso poderia acontecer, se ficou surpresa e o motivo que a levou a ter tal comportamento de distância com todos na empresa. Quando comentei isso com um funcionário da área dela, ele me disse (para minha surpresa) que tinha dado graças a Deus que ela tinha saído porque todos a achavam estranha, antipática e isolada. Eu, então, disse a ele que ela poderia ser uma pessoa tímida ou com dificuldade de se relacionar e ele me disse que se esse era o caso ele não poderia nunca ter escolhido a profissão de secretária. Depois desse comentário, só me restou ficar calada.
Até hoje,  não sabemos o que a levou a ter tal comportamento, o que resultou em sua demissão, embora fosse uma boa profissional. Não soubemos se o noivo era ciumento, se ele a proibia que ela se relacionasse com alguém no trabalho, se ela tinha tido algum problema sério no trabalho anterior  que a traumatizou ou coisa do tipo. 
Infelizmente, temos que nos esforçar (mesmo se essa não for sua característica) a ser sociáveis, simpáticos, demonstrar amizade, fazer parte de “panelinhas”, nos unirmos aos nossos iguais ou mesmo a outros grupos se quisermos ser aceitos dentro de alguma empresa. É a famosa máscara que temos que vestir quando vamos ao trabalho e a retiramos quando vamos embora.
Lembrei-me de uma entrevista do Marco Nanini em que ele disse que tinha trabalhado em um banco antes de se tornar  esse ator consagrado que todo mundo admirava.  Para meu espanto, ele relatou que havia trabalhado lá como escriturário e que fazia contas  o dia todo usando uma calculadora e,  mesmo assim, fazia tudo errado porque não gostava de números, mas precisava trabalhar e  estava indeciso quanto a seguir a carreira de ator.  Disse, inclusive, que sempre teve medo de ser demitido.
Entretanto,  a sorte dele era que era muito comunicativo, gostava de divertir os colegas e todo mundo gostava dele. Quando se via em dificuldade no trabalho, sempre chamava algum colega que o socorria prontamente. Segundo ele, isso sempre ocorria, porque era péssimo e fazia tudo errado.
Ficou lá durante alguns anos e quando se decidiu, definitivamente, pela carreira de ator, pediu demissão.  Ele disse à repórter, às gargalhadas, que, para surpresa dele, não queriam demiti-lo.
Vejam só como são as coisas! Dependendo da empresa em que for trabalhar, muitas vezes, você não precisa ser um bom profissional, mas se for um bom amigo  ou colega de trabalho (mesmo que seja por interesse), uma pessoa  legal, um funcionário que participa de todas as festas e happy hours, aliado a um trânsito livre com todas as pessoas da empresa, dificilmente será demitido.  Eu mesma já presenciei muitos casos parecidos a isso. Afinal, quando não se tem uma habilidade fundamental no trabalho, temos de desenvolver outra.
Uma vez perguntei a uma selecionadora, o que ela considerava mais importante, se era um funcionário competente mas com pouca ou nenhuma habilidade em se relacionar (me referi aos tímidos e não aos arrogantes, grosseiros e antipáticos) ou àqueles mais extrovertidos, simpáticos e que fazem amizade com muita facilidade, até com a secretária eletrônica, se possível. Ela  me confidenciou que não só ela, mas as empresas, em geral,  preferem os que conseguem desenvolver um bom relaciomamente intra e interpessoal porque a habilidade técnica e competência profissional essa pessoa poderia devenvolver com maior facilidade do que a capacidade de se entrosar com os outros.  Eu tive dúvida com relação a esse comentário mas não discuti.
Quem de nós não tem um caso para contar de amizades feitas em ambiente de trabalho que se dissolveram assim que você ou seu amigo em questão saiu da empresa? Isso mostra que não era uma amizade tão forte e sincera assim, não é? Temos de tomar cuidado com pseudo-amigos, aqueles tidos como sanguessugas. É muito difícil distingui-los dos amigos verdadeiros porque são, muitas vezes, dissimulados e acima de qualquer suspeita.
Desconfiem daquelas pessoas que dizem que têm muitos amigos. Amigos de verdade,  são únicos e difícies de se encontrar. Como no amor, onde temos a falsa impressão de que os opostos se atraem, na amizade também posso afirmar, com muita categoria que, somente os semelhantes, embora diferentes,  é que se aproximam e mantém uma relação sincera, rica e saudável e, por isso, duradoura. Quando há o respeito, a amizade perdura,  mesmo apesar das diferenças naturais que possam existir. Além disso, até casamento pode ocorrer quando se inicia uma amizade no ambiente de trabalho.
Parafrasendo  uma frase Nelson Rodrigues, que disse que um verdadeiro amor nunca acaba, e que se  acabou era porque não era amor.  Da mesma forma, penso sobre a amizade.
Escrevi esse caso para dizer para você que, se por acaso, já passou por essa situação ou conhece alguém que seja assim, saiba que  é possível sim ter amizades sinceras e duradouras no ambiente corporativo, porém, elas não se formam do dia para a noite e, muitas vezes, leva meses, ou até anos, para essa amizade amadurecer e se fortalecer. Pessoas que você conviveu no trabalho e quis tanto que fosse sua amiga não vingou, porém, outras pessoas que se aproximaram de você, sem mais nem menos, até mesmo sem a sua vontade, se transformaram em amigos fiéis e potenciais acima de qualquer suspeita, não é mesmo? Muitas vezes, uma (falsa) amizade se forma no ambiente corporativo por puro interesse. A chance de conseguir uma promoção, um aumento de salário, uma ajuda na rotina diária, saber de assuntos confidenciais e segredos ou mesmo ter uma cúmplice em um momento delicado, entre outras situações, faz com que você se engane e se decepcione com certas pessoas.
Por falar em segredo, saiba que, se tiver mesmo uma amizade pura e sincera,  poderá conversar com essa pessoa sobre qualquer assunto e não precisará pedir segredo sobre nenhum, pois, se a pessoa realmente a considera também uma grande amiga, não contará a ninguém. Caso contrário, mesmo pedindo várias vezes sigilo sobre determinado caso particular de cunho profissional ou mesmo pessoal, saiba que, essa mesma pessoa contará para alguém ou outras pessoas que ela, possivelmente, considera mais amiga que você. Por isso, muito cuidado nessa hora!
Além disso, você não precisa procurar amizades só entre seus pares, ou seja, entre secretárias, existem muitas outras pessoas no trabalho, sejam homens ou mulheres, que podem lhe oferecer uma companhia agradável e uma amizade saudável. Basta ficarmos atentos e disponíveis a essas pessoas. Tenho certeza de que poderão aprender muito um com o outro, além da troca de muita energia e experiência.

 

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