É possível fazer e manter amigos no ambiente de trabalho?
Todo mundo irá concordar quando dizem que temos que nos enturmar,
fazer amizade (de preferência, rápido) no ambiente corporativo. Mas,
convenhamos, todo mundo também sabe que, dependendo do local onde se
trabalha isso é difícil e, às vezes, até mesmo impossível.
Não é à toa que o departamento de Recursos Humanos, cada vez mais, se
empenha em proporcionar um ambiente corporativo saudável e amigável
entre seus funcionários através de muitas ações, como pesquisa de clima,
o que refletirá, enre outros aspectos, em maior rendimento e satisfação
dos funcionários em relação ao trabalho que executam.
Lembro-me bem de uma situação que aconteceu em uma das empresas em
que trabalhei. Era uma empresa multinacional, porém, com um quadro de
funcionários bem reduzido. Na época, éramos apenas 35 funcionários e 4
secretárias. Todas nós havíamos entrado no mesmo período, exceto essa
última de quem contarei o caso.
Tinha um bom relacionamento com a secretária que trabalhava ao meu
lado. Infelizmente não podíamos sair juntas para almoçar porque enquanto
uma estava fora, a outra deveria atender ao telefone, fornecedores,
clientes e a equipe de trabalho, ou seja, deveríamos assumir o posto de
trabalho enquanto a colega estivesse em horário de almoço.
Quando essa última secretária foi contratada, logo me simpatizei com
ela. Era discreta, quieta, bem sorridente e atenciosa. Eu só a achava
um pouco tímida, pois nunca conversava com ninguém, muito menos
circulava pela empresa. Chegava para trabalhar, sentava-se na cadeira,
fazia seu trabalho e lá ficava até a hora de ir embora, o que
acontecia rigorosamente no horário determinado de saída. Nunca a vi sair
uns minutos após o término do expediente.
Logo que ela chegou, me apresentei e a convidei para ir almoçar
naquele mesmo dia. No departamento em que ela trabalhava não era
necessário uma secretária para substitui-la enquanto estivesse fora. A
equipe era pequena e não tinham tantos contatos com clientes assim. Ela
deixava a secretária eletrônica de seu telefone ativada e ia almoçar.
Quando voltava era só anotar os recados.
Qual não foi minha surpresa quando ela disse que não poderia ir
almoçar comigo porque o noivo viria buscá-la para almoçar. Na hora
fiquei um pouco sentida, mas entendi. Qualquer pessoa no lugar dela,
faria o mesmo, eu acho.
Quando a gente convida algum colega de trabalho para ir almoçar, ir a
uma loja ou mesmo ir a um evento ou festa, isso demonstra claramente
nossa vontade de estreitar o relacionamento, formar uma amizade e
fortalecê-la porque durante o ambiente de trabalho não há tempo muito
menos clima para conversarmos sobre outros assuntos, sejam eles de ordem
pessoal ou mesmo profissional.
No dia seguinte, a convidei novamente e ela me deu a mesma
resposta. Disse que não poderia porque o noivo viria buscá-la. Insisti
no convite em mais duas ocasiões e como sempre tinha uma resposta
negativa, procurei deixá-la à vontade para almoçar comigo quando
quisesse. O caso é que isso nunca aconteceu durante o tempo em que
trabalhou lá conosco. Com certeza, algum motivo havia e procurei
respeitar a decisão dela.
O mais engraçado é que nunca a vimos (nem sozinha, nem acompanhada do
tal noivo) em nenhum restaurante próximo do trabalho. Como tínhamos
apenas uma hora para almoçar não dava tempo para almoçar em nenhum lugar
longe porque senão não retornaríamos ao trabalho a tempo.
Uma vez até a perguntei onde ela almoçava porque nunca a víamos
em nenhum dos lugares que frequentávamos. Ela me respondeu,
delicadamente, que ia em restaurantes um pouco afastados do trabalho
porque o noivo a levava de carro.
Aparentemente eu é quem tinha mais contato com ela, não via nenhuma
outra secretária conversando com ela, muito menos os colegas de trabalho
a quem ela assessorava. Seu chefe vivia viajando, principalmente ao
exterior, por isso, ficava muito sozinha e isolada lá no canto dela.
Certo dia, decidi me afastar dela porque achei que ela não gostava
da minha companhia e, por isso, dava sempre a mesma desculpa. Depois
notei que nenhuma secretária se aproximava dela, nem para conversar, nem
para ajudar no trabalho, pois ela poderia ter alguma dificuldade, como é
comum logo no início de um novo trabalho. Enfim, ninguém se preocupava
com ela e ela fazia o mesmo.
Logo que ela foi contratada até me propus a ajudá-la caso ela tivesse
alguma dúvida ou dificuldade, mas para meu espanto, ela nunca me
perguntou nada. Nunca pediu ajuda nem a mim nem a ninguém. Acredito
que ela, ou era muito polivalente, ou então não gostava de incomodar
ninguém e tentava resolver sozinha (acertando ou não) suas dificuldades.
Logo notamos que havia algo estranho quando todos fomos almoçar em um
restaurante bacana para comemorar o dia da Secretária (30 de setembro).
Nesse dia até o chefe dela estava presente, mas ela novamente deu a
mesma desculpa para não ir conosco. Quando voltamos do almoço, lá estava
ela na sua mesa trabalhando e não teve a delicadeza e nem a curiosidade
de nos perguntar como foi o almoço ou coisa do tipo.
No mês seguinte, houve um happy hour proporcionado pela empresa em um
bar perto da empresa. Seria às 18h e terminaria às 20h. Na
ocasião, ela nos disse que não iria porque tinha um compromisso com o
noivo que viria buscá-la quando terminasse o expediente.
Em seguida, fomos comemorar, no início de dezembro, a
confraternização de Natal, com direito a churrasco, amigo secreto,
música ao vivo em um ambiente amistoso e descontraído em uma chácara
muito bonita e aconchegante e ela, novamente,e não compareceu. Ela foi a
única funcionária ausente. Até disse que iria, que o noivo a levaria
(era um sábado), pois poderíamos levar um acompanhante.
Quando nos encontramos novamente no trabalho, ela deu uma desculpa
qualquer por não ter ido. Infelizmente, naquela mesma semana, ela foi
demitida. Eu lamentei muito a saída dela e a passagem rápida por nossa
empresa. Não sei como ela se sentiu, se previu que isso poderia
acontecer, se ficou surpresa e o motivo que a levou a ter tal
comportamento de distância com todos na empresa. Quando comentei isso
com um funcionário da área dela, ele me disse (para minha surpresa) que
tinha dado graças a Deus que ela tinha saído porque todos a achavam
estranha, antipática e isolada. Eu, então, disse a ele que ela poderia
ser uma pessoa tímida ou com dificuldade de se relacionar e ele me disse
que se esse era o caso ele não poderia nunca ter escolhido a profissão
de secretária. Depois desse comentário, só me restou ficar calada.
Até hoje, não sabemos o que a levou a ter tal comportamento, o que
resultou em sua demissão, embora fosse uma boa profissional. Não
soubemos se o noivo era ciumento, se ele a proibia que ela se
relacionasse com alguém no trabalho, se ela tinha tido algum problema
sério no trabalho anterior que a traumatizou ou coisa do tipo.
Infelizmente, temos que nos esforçar (mesmo se essa não for sua
característica) a ser sociáveis, simpáticos, demonstrar amizade, fazer
parte de “panelinhas”, nos unirmos aos nossos iguais ou mesmo a outros
grupos se quisermos ser aceitos dentro de alguma empresa. É a famosa
máscara que temos que vestir quando vamos ao trabalho e a retiramos
quando vamos embora.
Lembrei-me de uma entrevista do Marco Nanini em que ele disse que
tinha trabalhado em um banco antes de se tornar esse ator consagrado
que todo mundo admirava. Para meu espanto, ele relatou que havia
trabalhado lá como escriturário e que fazia contas o dia todo usando
uma calculadora e, mesmo assim, fazia tudo errado porque não gostava de
números, mas precisava trabalhar e estava indeciso quanto a seguir a
carreira de ator. Disse, inclusive, que sempre teve medo de ser
demitido.
Entretanto, a sorte dele era que era muito comunicativo, gostava de
divertir os colegas e todo mundo gostava dele. Quando se via em
dificuldade no trabalho, sempre chamava algum colega que o socorria
prontamente. Segundo ele, isso sempre ocorria, porque era péssimo e
fazia tudo errado.
Ficou lá durante alguns anos e quando se decidiu, definitivamente,
pela carreira de ator, pediu demissão. Ele disse à repórter, às
gargalhadas, que, para surpresa dele, não queriam demiti-lo.
Vejam só como são as coisas! Dependendo da empresa em que for
trabalhar, muitas vezes, você não precisa ser um bom profissional, mas
se for um bom amigo ou colega de trabalho (mesmo que seja por
interesse), uma pessoa legal, um funcionário que participa de todas as
festas e happy hours, aliado a um trânsito livre com todas as pessoas da
empresa, dificilmente será demitido. Eu mesma já presenciei muitos
casos parecidos a isso. Afinal, quando não se tem uma habilidade
fundamental no trabalho, temos de desenvolver outra.
Uma vez perguntei a uma selecionadora, o que ela considerava mais
importante, se era um funcionário competente mas com pouca ou nenhuma
habilidade em se relacionar (me referi aos tímidos e não aos arrogantes,
grosseiros e antipáticos) ou àqueles mais extrovertidos, simpáticos e
que fazem amizade com muita facilidade, até com a secretária eletrônica,
se possível. Ela me confidenciou que não só ela, mas as empresas, em
geral, preferem os que conseguem desenvolver um bom relaciomamente
intra e interpessoal porque a habilidade técnica e competência
profissional essa pessoa poderia devenvolver com maior facilidade do que
a capacidade de se entrosar com os outros. Eu tive dúvida com relação a
esse comentário mas não discuti.
Quem de nós não tem um caso para contar de amizades feitas em
ambiente de trabalho que se dissolveram assim que você ou seu amigo em
questão saiu da empresa? Isso mostra que não era uma amizade tão forte e
sincera assim, não é? Temos de tomar cuidado com pseudo-amigos, aqueles
tidos como sanguessugas. É muito difícil distingui-los dos amigos
verdadeiros porque são, muitas vezes, dissimulados e acima de qualquer
suspeita.
Desconfiem daquelas pessoas que dizem que têm muitos amigos. Amigos
de verdade, são únicos e difícies de se encontrar. Como no amor, onde
temos a falsa impressão de que os opostos se atraem, na amizade também
posso afirmar, com muita categoria que, somente os semelhantes, embora
diferentes, é que se aproximam e mantém uma relação sincera, rica e
saudável e, por isso, duradoura. Quando há o respeito, a amizade
perdura, mesmo apesar das diferenças naturais que possam existir. Além
disso, até casamento pode ocorrer quando se inicia uma amizade no
ambiente de trabalho.
Parafrasendo uma frase Nelson Rodrigues, que disse que um verdadeiro
amor nunca acaba, e que se acabou era porque não era amor. Da mesma
forma, penso sobre a amizade.
Escrevi esse caso para dizer para você que, se por acaso, já passou
por essa situação ou conhece alguém que seja assim, saiba que é
possível sim ter amizades sinceras e duradouras no ambiente corporativo,
porém, elas não se formam do dia para a noite e, muitas vezes, leva
meses, ou até anos, para essa amizade amadurecer e se fortalecer.
Pessoas que você conviveu no trabalho e quis tanto que fosse sua amiga
não vingou, porém, outras pessoas que se aproximaram de você, sem mais
nem menos, até mesmo sem a sua vontade, se transformaram em amigos fiéis
e potenciais acima de qualquer suspeita, não é mesmo? Muitas vezes, uma
(falsa) amizade se forma no ambiente corporativo por puro interesse. A
chance de conseguir uma promoção, um aumento de salário, uma ajuda na
rotina diária, saber de assuntos confidenciais e segredos ou mesmo ter
uma cúmplice em um momento delicado, entre outras situações, faz com que
você se engane e se decepcione com certas pessoas.
Por falar em segredo, saiba que, se tiver mesmo uma amizade pura e
sincera, poderá conversar com essa pessoa sobre qualquer assunto e não
precisará pedir segredo sobre nenhum, pois, se a pessoa realmente a
considera também uma grande amiga, não contará a ninguém. Caso
contrário, mesmo pedindo várias vezes sigilo sobre determinado caso
particular de cunho profissional ou mesmo pessoal, saiba que, essa mesma
pessoa contará para alguém ou outras pessoas que ela, possivelmente,
considera mais amiga que você. Por isso, muito cuidado nessa hora!
Além disso, você não precisa procurar amizades só entre seus pares,
ou seja, entre secretárias, existem muitas outras pessoas no trabalho,
sejam homens ou mulheres, que podem lhe oferecer uma companhia agradável
e uma amizade saudável. Basta ficarmos atentos e disponíveis a essas
pessoas. Tenho certeza de que poderão aprender muito um com o outro,
além da troca de muita energia e experiência.
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